segunda-feira, 20 de abril de 2009

A volta dos Mortos Vivos


A VOLTA DOS MORTOS-VIVOS (The Return of the Living Dead , Estados Unidos, 1985). Duração: 91 minutos
Direção: Dan O'Bannon
Roteiro: Dan O'Bannon; Rudy Ricci; Russell Streiner, baseado num livro de John A. Russo
Produção: Tom Fox
Produção Executiva: John Daly; Derek Gibson
Edição: Robert Gordon
Fotografia: Jules Brenner
Música: Matt Clifford; Francis Haines; Robert Randles
Direção de Arte: Robert Howland
Desenho de Produção: William Stout
Maquiagem: Allan A. Apone; Tony Gardner; William Munns; Tony Gardner
Elenco: Clu Gulager (Burt Wilson); James Karen (Frank); Don Calfa (Ernie Kaltenbrunner); Thom Mathews (Freddy); Beverly Randolph (Tina); John Philbin (Chuck); Jewel Shepard (Casey); Miguel A. Núñez Jr. (Spider); Brian Peck (Scuz; 'Ant Farm' Zombie); Linnea Quigley (Trash); Mark Venturini; Jonathan Terry; Cathleen Cordell; Drew Deighan; James Dalesandro; John Durbin; David Bond

Sexo, drogas, rock´n´roll, punks e mortos vivos. Foi com esta combinação que o diretor e roteirista Dan O´Bannon realizou em 1985 o clássico trash A Volta dor Mortos-Vivos (The Return of the Living Dead), injetando sangue novo ao tema das produções envolvendo zumbis. Com altas doses de terror, uma história simples, porém eficiente e ótimas pitadas de humor negro, O´Bannon não apenas realizou um dos mais lembrados filmes do gênero da década de 80, como acabou criando uma ótima série envolvendo cadáveres que voltam à vida para se alimentar das pessoas.


O filme começa trabalhando com a idéia do clássico de George Romero, Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, 1968), como tendo sido baseado num episódio verídico. Como? Um filme onde zumbis são mostrados dominando o mundo sendo um acontecimento real? Exato. E vai ser nessa "realidade" que conhecemos Frank (James Karen) e Freddy (Thom Mathews). Ambos trabalham em um Armazém de Suplementos Médicos, que, entre outras coisas, vende corpos para escolas de medicina. Será durante um plantão noturno que Frank vai mencionar sobre o assunto da veracidade da obra de Romero e explicar que o cultuado diretor remanejou os fatos de uma série de testes feitos pelo exército com elementos químicos que acabaram fazendo com que os mortos pulassem como se estivessem vivos. E como se não bastasse, graças a um erro do setor de entrega do exército, os corpos dos tais defuntos que andaram vivos no passado estão dentro de tambores guardados no porão do armazém onde a dupla está.

Movido pela curiosidade natural, Freddy pede ao amigo para ver os tanques e logo os dois estarão no porão da empresa abrindo um dos tambores. Não vai demorar muito para que um dos barris comece a vazar fazendo com que a dupla desmaie por inalar o gás armazenado no barril. Sugada pelo tubo de ventilação, a substância gasosa contida no tambor vai ser distribuída por todo o armazém, incluindo a sala onde está guardado um cadáver.




Nesse meio tempo, conhecemos o grupo de amigos punks do Freddy que estão esperando por sua saída do trabalho. Para matar tempo, o grupo resolve invadir um cemitério para fazer uma festinha. De volta ao armazém, a dupla acorda e percebe que a curiosidade matou o gato, nesse caso, ressuscitou o morto. Claro que com a boa intenção de corrigir este terrível erro, os dois funcionários vão tentar algumas soluções para o problema e como uma bola de neve, não vai demorar muito e este morto solitário ganhará companhia de centenas de amigos recém saídos da tumba. Lembrando que os colegas de Freddy estão festejando em um cemitério repleto de cadáveres que muito em breve estarão pulando atrás dos vivos.

Produzido sem grandes pretensões, A Volta dos Mortos-Vivos fez sucesso por ser um filme declaradamente B, possuir teor escatológico e um ótimo humor negro, praticamente dando nova identidade para os zumbis assassinos eternizados pela obra de Romero. Grande parte do sucesso com o público se deu por essa combinação entre o terror e as situações cômicas, que em momento algum fazem a produção parecer boba ou leve. E se o filme de O´Bannon pode ser considerado por alguns como um filho bastardo da clássica série dos zumbis comedores de pessoas de Romero, as semelhanças param por aí.


Aqui os mortos-vivos falam e conseguem se comunicar gerando passagens memoráveis, como quando um zumbi está terminando de jantar o cérebro de um para-médico e escuta através do rádio da ambulância alguém pedindo um retorno do tal médico. Sem a menor cerimônia, o zumbi larga sua comida, pega o rádio e fala "enviem mais médicos". Os mortos-vivos de O´Bannon não andam de forma lenta como os de Romero e sim correm como maratonistas atrás de seus jantares. Falando em comida, os zumbis de O´Bannon sentem apetite apenas pelo cérebro dos vivos, diferente dos defuntos de outras produções que comem uma pessoa inteira sem desperdiçar nada.

Mais conhecido por seu trabalho como roteirista do clássico Alien (1979), Dan O´Bannon fez em A Volta dos Mortos-Vivos sua estréia como diretor, cargo que repetiu apenas uma outra vez com o terror baseado na obra de H.P. Lovecraft, The Resurrected (1992). Neste seu filme de estréia, O´Bannon conta uma história simples e com um bom ritmo que vai fluindo sem parecer lenta ou chata em nenhum momento, agradando em cheio aos fãs do gênero e merecendo destaque entre as inúmeras produções envolvendo mortos-vivos. E olha que não são poucas. Apesar da obra de Romero ser tomada como referência, desde a década de 30 já eram produzidos filmes com zumbis.




Os personagens criados por O´Bannon funcionam perfeitamente com a história e o elenco dá conta do recado. Nomes de atores experientes e ecléticos como James Karen, que já fez mais de 90 filmes de praticamente todos os gêneros, ao lado de figuras como os então novatos Thom Mathews (Sexta-feira 13 - parte 6, 1986), Glu Gulager (A Hora do Pesadelo 2, 1985) e Beverly Randolph que trabalhou apenas nesta produção.

No entanto, vai ser a atriz Linnea Quigley (O Massacre da Serra Elétrica 3 "Hollywood Chainsaw Hookers", 1988) quem rouba o filme no papel da punk de cabelo vermelho chamada Trash. Trata-se na verdade de uma coadjuvante de destaque dentro da trama. Conhecida como a rainha dos filmes B, com mais de 80 produções no currículo, a maioria infelizmente nunca lançada por aqui, Quigley é provavelmente uma das personagens mais lembradas da história. Durante a festa no cemitério, ela faz um streap tease, fica dançando nua no meio das tumbas e quando os mortos ressuscitam, a coitada não tem tempo de encontrar as roupas e passa parte do filme correndo nua pra lá e pra cá até ter seu cérebro devorado pelos mortos e logo depois virar uma zumbi nua.

A Volta dos Mortos-Vivos fez sucesso suficiente para gerar uma série própria e três anos depois foi produzida a segunda parte (The Return of the Living Dead 2). Dirigido dessa vez por Ken Wiederhorn ("Freddy's Nightmares", 1988), a seqüência parece mais uma refilmagem do primeiro filme, com praticamente o mesmo enredo, situações semelhantes e o mesmo toque cômico. Até os atores James Karen e Thom Mathews da primeira parte trabalham nesta seqüência em papéis diferentes. E justamente por utilizar estes mesmos elementos que o segundo filme é quase tão bom quanto o original. O termo quase tão bom vai pelo fato de ser praticamente um clone do primeiro filme.

A direção do terceiro episódio da franquia (Return of the Living Dead 3, 1992) ficou por conta do experiente Brian Yuzna, (Re-animator. 1985). Levando a série para um tom mais sério e praticamente sem nenhum elemento que remetesse ao humor negro, Yuzna conduz a história de um amor tão forte entre dois jovens que nem a morte poderia separá-los. O filme não desapontou os fãs do gênero com altas doses de terror e uma história criativa. Foi preciso, no entanto, treze anos para que a série fosse retomada e quando isto aconteceu, os fãs foram brindados com dois filmes quase que simultaneamente. Sob a direção de Ellory Elkayem (Malditas Aranhas, 1997), foram produzidos os filmes A Volta dos Mortos-Vivos: Necropolis e A Volta dos Mortos-Vivos: Rave. Ambas as produções já foram lançadas no Brasil.





Com estes dois lançamentos ainda se falará muito desta série. De acordo com o roteirista de ambos os filmes William Butler, o formato da história, que é interligada, e os novos zumbis são semelhantes aos do primeiro filme. Ou seja, boas doses de escatologia com toques cômicos. Já é um ponto positivo para estas novas produções. Nada mal para um filme que foi realizado sem maiores pretensões, cerca de 20 anos atrás, no meio de tantas produções sobre zumbis, porém que marcou época e que conseguiu sobreviver simplesmente pela forma criativa de sua história ser narrada.

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